4 de abr. de 2010

Fazendo a diferença

Mariana aproveitou o feriado para dormir. Estava cansada da correria física e mental, de não ter tempo para degustar um lanche sequer. Só tinha tempo para engolí-lo sem o mínimo prazer. Decidiu se esquecer de tudo o que precisava fazer. Esqueceu da faculdade, da família, dos amigos e até de alguns compromissos. Não sentiu peso na consciência porque era um esquecimento temporário, que duraria apenas o tempo de seu sono. E dormiu. Dormiu e sonhou que era uma heroína, dessas que voam e, com um simples bip no relógio, sabe tudo o que está acontecendo no mundo inteiro. Em seu sonho, ajudou o papai noel a entregar alguns presentes atrasados, e deu uma assistência para o coelho da páscoa esconder os ovos das crianças que acabaram de acordar. Voou numa vassoura porque era dia de halloweene ofereceu gostosuras e travessuras para pessoas já mais velhas, arrancando-lhes boas risadas. Mariana também sonhou que era mãe, e que por pouco não entregou o presente de dia dos pais ao seu. Sonhou que dormiu ainda com o sol refletindo em sua janela, e acordou com o barulho da chuva que caía mansamente sobre o telhado de sua casa. Mas que casa? Tudo estava misturado. Tantas datas comemorativas num dia só... o que isso significava? Ela ficou aflita, mas decidiu levantar e ver o que o novo dia lhe reservara. Surpreendeu-se ao ver que a chuva já tinha cessado, e agora a neve caía em floquinhos suaves. Os meninos brincavam de jogar bolas de neve uns nos outros, enquanto as meninas terminavam de enrolar o cachecol no boneco com nariz de cenoura. Todos estavam de bermuda e uma camiseta leve e colorida. Pareciam as flores encobertas por aquele frio todo. Novamente Mariana estranhou. "Onde é que eu fui me meter?", pensou? Seu relógio começou então a bipar. De todos os lugares alguém precisava dela: tinha um gato que não conseguia descer da árvore, um homem que não encontrava o filho escondido, uma tia que havia caído na calçada e enfrentava zombaria de uns meninos... Mariana não sabia o que fazer, não sabia a quem atender primeiro. "E agora?", resmungou. Foi aí que decidiu bipar seu próprio relógio e admitir que não era uma heroína, mas sim, alguém que está em constante aprendizado, mesmo que tudo esteja de cabeça pra baixo. E, nos toques incessantes do bip, ela acordou. Desligou o despertador, virou-se de barriga para cima em sua cama e sorriu. Ela não era uma heroína, mas mesmo assim, fazia a diferença na vida de muitas pessoas, sem que elas precisassem de um código para chamá-la. Sentou-se e lembrou de sua família, de seus amigos, de seus compromissos e, por fim, dela mesma. Suas forças estavam renovadas. E, levada pela melodia dos pássaros, Mariana levantou num pulo e sentiu-se feliz.

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