28 de jan. de 2010

Bom dia!

A primeira coisa que me passou pela cabeça enquanto eu percorria a estreita rua de terra que conduz ao Morro do Amaral, em Joinville, foi a lembrança de dias ensolarados da minha infância em que, com meus avós, eu ia à Barra do Sul. Na época, a estrada de chão batido era ladeada por árvores altas e frondosas. Com o sol da manhã iluminando o lugar, ele só não conseguia ser mais bonito do que um pouco mais à frente, quando o mar surgia reluzente. Ah, bons tempos... Bons tempos também é o que eu acho que três meninos com seus nove, talvez dez anos, pensam hoje, enquanto pulam da ponte direto no rio de água gelada que corta o mangue. Com as roupas penduradas num toco de árvore ali perto, os garotos sorriem e posam para fotos quando vêem um cara com uma câmera e mais algumas pessoas acenando e conversando com eles. Parecem nem notar que estão apenas de cueca, afinal, o importante é a diversão.

Cruzando a ponte que serve de trampolim para os meninos, chegamos a uma pequena vila, com campo de futebol e casinhas bem modestas. Nos quintais, mais crianças. E elas sorriem, acenam, chamam amigos e acenam mais ainda. Enquanto isso, adultos olham desconfiados, entregando a percepção de que há gente estranha ali. É, deve ser isso. Por ser um local pequeno, imagino que todos se conheçam e estranhem a presença de outras pessoas. Daí eu penso que entra em cena uma questão cultural. Aquelas crianças, muitas de pés descalços, também sabem que há gente diferente por ali, no entanto, parecem se esforçar para serem ainda mais educadas e acolhedoras. Não à toa, pois com elas conseguimos até bater papo. Pouco tempo, mas deu pra estabelecer uma relação cordial de aceitação de ambas as partes. Gente grande parece ser mais difícil de transpor mesmo. Chegando ao final da vila, que desemboca na baía, várias pessoas estavam sentadas numa muretinha próxima a igreja, já condenada pelo tempo. Elas olhavam e olhavam pra gente, dentro do carro, mas, até que esboçássemos um sorriso e fizéssemos um mínimo aceno com a cabeça, aqueles homens e mulheres não pareciam gostar dos visitantes.

Claro, não podemos esquecer que existe muita gente mal intencionada por aí. Cumprimentar uma delas pode desencadear uma reação não esperada, quem sabe até desesperadora. Pensando de forma um pouquinho menos medrosa, se é que esta é a palavra certa, cumprimentar um estranho pode ser recebido como ofensa. Complicado... Cabeça de gente é um bicho difícil de domar. Tão simples se dois estranhos, ao se cruzarem, dessem um leve sorriso, um aceno com a cabeça, ou quem sabe uma simples piscadela. Gestos tão simples que, ao meu ver, simplificariam a vida de muita gente. Longe de mim querer ser exemplo, ou algo do gênero, mas garanto que quando cumprimento uma tia que está limpando o chão, o sorriso dela denota satisfação, assim como o guarda, ao me ver passar, já deseja bom dia em alto e bom som, além do clássico “jóia” com o polegar. Aí, quem dá um sorriso de satisfação sou eu, por ver que, em meio a tanta gente que sequer se dá conta das pessoas que as servem, preferem valorizar aquelas que sabem que bom dia realmente não causa um dia ruim pra ninguém.




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